25 de outubro de 2011

Cela

“Há um ar de calmaria nessas coisas velhas”, arrisca-se ao relembrar as páginas ancestrais das reminiscências. Engraçado como tudo lhe pareceu pacífico. Torneando os conflitos - os gritos, os beijos e a luta armada contra a família, o governo, os superegos juvenis - pairava a paz que consagra as sinceras missões. Agora eu vejo, agora você pode ver também; a briga era, além de certa, apropriada. -Mas corre, que o medo amontoa as decisões. É preciso fugir, correr de você, dos abraços bem intencionados, tensos de solidão; que nada é sólido. Você já não está aqui, você não para quieta; dança, salta, não me adianta precipitar; se quando afago você, felina, já não está aqui.

Sentia a falta da filha, vestia branco no domingo, comia o macarrão e esperava o telefone tocar. Não corre, por favor, que de tanto correr lá naquelas reminiscências sinto-me cansada, incapaz. Não, não posso te acompanhar, minha mocinha. Você anda tão formosa; esses laços, tantas rendas; vejo o livro na sua cabeça, minhas mãos nos ombros, sapatilhas qual de brilhantina sobrepondo-se. Você aprende tão rápido... e assim corre. Calma, mocinha. Me deixa arrancar essas folhas dos cabelos, a dor desta poltrona, deixe-me limpar.

Disseram que era tarde, viu? Eu tentei não ficar aqui, não desagradar, e agora vejo toda essa gente se embolando, caminhando lépida sem precisar lutar. Lutei ferozmente contra todos na batalha contra mim, e, hoje, essa gente que se tromba lá embaixo não sobe aqui, não vê o quanto este apartamento e esta poltrona me aborrecem, soltam rojões e me explodem todos os dias. Apertando, espremendo, afogando os meus sorrisos no imenso oco de tudo aquilo que não pode estar aqui.

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