7 de dezembro de 2011

Sob o fim.

As nossas vidas se cruzaram, se bolinaram e fizeram amor. As nossas vidas tiraram a roupa, se reproduziram no espelho, na cama, no papel do pão. Naquela cópula constante e inevitável fizeram filhos, amamentaram, dividiram o colo; que assim não pesa em ninguém, não fere o meu peito não desgasta o seu. Daí as nossas vidas começaram a beber, as nossas vidas entraram em crise de meia-idade. Já não sabiam falar seus nomes sem titubear na transcrição do outro, que não o seu. As nossas vidas tiraram férias, deixaram as chaves com o vizinho e seguiram sós, em diferentes direções. Naquelas rotas caíram pedras, tempestades, terremotos improváveis remexendo encostas, asfaltos e vegetações. As nossas vidas queriam mas não poderiam voltar para casa. Os impropérios dos caminhos bloqueados embaraçavam e desbotavam as investidas de retorno. Tolhidas, inibidas, bloqueadas, fizeram do caminho, lar; E hoje as nossas vidas perfilam-se em estradas paralelas, vizinhas de frente impedidas por resolução judicial. As nossas vidas dividem custódia, recortam retratos, evitam-se inutilmente. Pagam a dor como pensão.

Um comentário:

  1. "há muito essa palavra
    entrou na minha história.
    Agora ela reentra
    nas reentrâncias da memória."

    Belo blogue, Ju.

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