25 de junho de 2012

Um livro, um mês. #1.


  Passo tanto tempo com os livros, manuseando-os simplesmente, admirando-os, ou, de fato conhecendo aquilo que guardam, que é comum que eu me perca do que me causam, do que são, como o que são em essência, livros; objetos afetivos portadores de uma história única. No entanto, não me interessa tanto aqui, falar sobre o conteúdo em seus miolos, os romances, os contos, os parágrafos sem fim empilhados na estante. Proponho a investigação das intimidades, a explanação de motivos injustificáveis em uma relação profunda e extremamente tátil. 
Sou eu levantando os livros pra limpar a poeira na superfície da escrivaninha. 






O gato por dentro, William Burroughs.

Quando. 14/02/2011.
Aonde? Planet Music, Juiz de Fora.
Quanto? R$ 8,00.
Onde? Prateleira, quarto, literatura estrangeira.






Flerte: Confesso que minha suscetibilidade sempre foi ambiental. A entrada, um passo, respiração e pronto. A inalação do ar em livraria é veneno fatal. Lembro-me de estar particularmente triste, sem, apesar, recordar a razão; o que me leva a crer que tenha sido algo corriqueiro, doméstico, interno ou hormonal. Mas o que é relevante, enfim, é esse começo, penso que “o gato por dentro” foi um consolo. 

Primeiro toque: Recostado numa daquelas araras dos pockts, o contraste pretamarelo saltou à atenção, e, partindo disso, não há muito o que descrever. “O gato por dentro” foi o único livro que comprei sem abrir. Apresentamo-nos pela cara; havendo o amor por meus gatos, a necessidade de ser melhor, talvez mais felina, compreendi que precisava aprender com ele.

Apontamentos: Há toda aquela história trágica do Burroughs, o acidente com arma de fogo no qual é responsável pela morte da própria mulher, as drogas, a morfina e muita dor. E há os gatos. 
  No começo de tudo, eu só pensava no “porquê” daquele livro; tão simples em linguagem, chegando a ser despretensioso, até; mas tão honesto, sincero e belo; recortes pontuados de reflexões atemporais sobre si, um artista e homem ferido, sentindo, como qualquer outro homem sente, a dor da memória, as ferpas de velhos conhecidos. 
    
"Inverno nuclear... vento uivante e neve. Um velho e um barraco improvisado a partir das ruínas de sua casa, enrolado em cachecóis rasgados, cobertores cheios de buracos e tapetes sujos com seus gatos." (p.89)

Assim, pelo meio da leitura me dei conta do comum entre aquela escrita e o meu momento. Os gatos eram uma causa, a paixão pela qual se luta todos os dias, o amor pelo qual nos pretendemos bons, melhores, vencedores da aurora ao entardecer, numa caminhada sem chegada. 


"Eu já disse que os gatos servem como Familiares, companheiros psíquicos. "Eles são mesmo uma companhia." Os Familiares de um velho escritor são suas memórias, cenas e personagens de seu passado, real ou imaginário. Um psicanalista diria que eu estou simplesmente projetando essas fantasias em meus gatos. Sim, de maneira bem simples e literal, os gatos servem como telas sensitivas para atitudes bastante precisas quando escalados em papéis apropriados. Os gatos podem ser meu último elo vivo com uma espécie moribunda" (p.75)



Ele em mim: Ele são os gatos, eu também os sou, não posso parar de concluir que o que vejo neles sai de mim, sendo uma tempestade de vontades, preguiças, carinhos e garras compartilhadas intimamente pelo olhar, que é, sem dúvidas, o maior dom dos gatos.

*Um livro sobre o homem, onde os protagonistas são os gatos de Burroughs.







2 comentários:

  1. Moça, curti demais, como vc escreve bem! Vou linkar aqui! Beijos

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    Respostas
    1. Maíra! que bom que você gostou, fico feliz em saber.
      Você é uma daquelas pessoas de que ouço falar (pela Feibis) quase todos os dias mas mal conheço, é uma pena! quando vier a JF vou cobrar da Misi, tá?
      Vou dar uma olhadinha lá no "Louca no Maiô", já super me identifiquei, rs.
      Beijo!

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