Domingo, dia 26 de maio de 2013, o
frio e a lua-cheia abissais davam o mote às calçadas, janelas e corpos na noite
juiz-forana. Desde o começo da semana presente, eu e uma porção de pessoas
estávamos ansiosas com o show que aconteceria no Teatro Pró-música. Expectativa
confirmada pela fila extensa formada na porta da casa; todos gulosos pela
degustação da presença e som ofertados por Rafael Castro e Túlio Mourão na
pré-estreia da turnê do DVD a ser lançado, “Teias”. Pois. Já assentada, eu
encarava a cortina vermelha que impunha sombra ao palco enlaçando o presente que
aguardávamos das mãos escondidas nas costas do teatro. Então movimento, minuto
e som. Desvendados os ouvidos, uma estrada de silêncio abriu-se no espaço da
plateia. À frente, dois homens trabalhavam as mãos no ofício de contar
histórias e distribuir arrepios. Eram as teias prometidas envolvendo-nos
ouvintes, eles e nós, num diálogo aliteral, bi e multilateral, articuladas em
pares, fibras vibravam num caos de entendimento mútuo. O que dizer do cenário? A
genial disposição dos pianos em cena deixa Rafael e Túlio frente-a-frente numa
bela metáfora visual. Os dedos, como máquinas, unem os nervos dos dois grandes instrumentos,
eles sim, corações observáveis pulsando ao leve toque dos operadores dedicados.
O repertório delicado do Teias
abrange muitas minúcias históricas e estilísticas, proporcionando espaços para
performances impecáveis da dupla em arranjos que evidenciam a sintonia e a generosidade
entre os dois pianos. A lista de músicas não é longa, fato que vem me fascinando
no contato mais constante com a música instrumental. Quando, num show de uma
hora e meia de canções, precisamos elencar cerca de 18 a 20, um repertório como
o aqui citado é composto por 9, 10 temas. Parece-me haver, assim, a pretensão
de se extrair de cada música todo o sumo, bebendo-o e embriagando-se para que,
enfim, se possa brincar nas cordas vestindo, inteiramente, os seus impossíveis
tons. E o que é, pois, brincar, senão perseguir com total fé o impossível?

Fechada a cortina, o vermelho repõe
luz ao que parecia sombra, e a ansiedade precoce é substituída por um
encantamento geral. Saímos do teatro orgulhosos pela certeza de que algo raro
fora presenciado. E daquela noite, a lua-cheia, o frio, as teias e o som
permaneceriam em nós; ternos e abissais.
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